O que é uma Nação? Parte 2: A Formiga, o Lobo e o Homem
Uma nação é um corpo coerente de pensamentos e impressões que pessoas e famílias amplas têm entre si, é uma relação mais complexa que a de mero grupo ou associação temporária, é como dizem, um conjunto de famílias. Acrescentaria que Nação é um verdadeiro Corpo Místico, pois enquanto o sentimento de pertença a uma nação existe, existe algo de místico dentro de cada um de seus membros. Um Corpo Espiritual, nação é isto.
Alguns dizem que este sentimento de nação existe por causa do instinto tribal ou animal semelhante a uma matilha ou manada, outros ainda a um formigueiro ou colmeia. É a relação de sobrevivência entre membros em prol de um objetivo que é a mesma sobrevivência. Com a evolução, este processo foi se complexando mais e mais a ponto de se tornar abstrato e sentimentalmente diverso conforme a geografia e história. De fato, isto existe, mas está num campo inferior de atuação, já que se o homem se vê como semelhante à colmeia ou a um cupinzeiro, não o faz por uma comprovação, mas por uma analogia em que reconhece em tais seguimentos da realidade um atlas de sua própria natureza. A relação da formiga e o formigueiro parece social tal como a cidade humana, mas na verdade não existe a individualidade da formiga perante o formigueiro, existe a função executada por uma formiga individual perante um formigueiro, existe uma relação de Senhor e Escravo, de Pai e Filho, para citar Aristóteles. Ora, esta relação não é consciente, a formiga não estabelece uma comunicação com as outras formigas, umas diferentes das outras, mas é uma relação que sob alguns aspectos se parece com uma imensa corporação, em outros com uma grande família, em outros é uma verdadeira fazenda colonial do século XVIII. Em todos estes aspectos há uma verossimilhança, mas a relação real da formiga e do formigueiro é a de Formiga e Formigueiro, ou seja, é a de um Corpo Composto por vários membros individuais mas não dotados de personalidade individual, apenas uma individualidade total do corpo; aquela formiga pertence àquele formigueiro, jamais ela vai abandoná-lo para estabelecer vínculo com outro formigueiro que ela achar maior simpatia. O formigueiro é um corpo composto particularmente distinto pois os seus membros são divididos em "classes" hierárquicas e conforme a potencialidade dada na sua geração; a Rainha é a mãe de todos, mas todos as formigas não são "principescas", as Operárias carecem de capacidade de gerar filhos, por sua constituição estéril e deficiente das qualidades da realeza formigueira, trabalham fielmente na sustentabilidade do formigueiro sem pensar em traição ou independência, então há uma desigualdade constitutiva dentro do formigueiro que não corresponde a uma família, pois o filho de homem é totalmente homem e não um ser determinado em sua capacidade de ser humano, tanto quanto um rei ou um operário de uma fábrica é humano. Nisto por si só, já desmentimos a ideia de que a sociedade humana é como um formigueiro pelo rigor da observação.
Citemos outro exemplo claro de relação no reino animal; a do Lobo e a Alcateia. Esta relação assemelha-se mais a de uma tribo de guerreiros, estão juntos por valores comuns de sobrevivência e guerra, estão o tempo todo analisando o que fazer para comer, caçar, fugir, sobreviver, e se reproduzir. Esta relação faz com que alguns machos mais fortes, perspicazes e inteligentes predominem por terem a estratégia e força melhor perante os demais, com isto eles se beneficiam de terem mais fêmeas à sua disposição, há uma predisposição natural já que eles têm mais testosterona. O Macho Alfa não sabe o porquê disto, mas a inteligência humana vai dizer que a genética mais bem preparada vai repassar aos filhotes, portanto é o Instinto da Sobrevivência ou Perpetuação da Espécie, ou ainda da Seleção Natural. A Alcateia é um símbolo da guerra e sobrevivência, vence o mais forte, o mais bem preparado. Mas quem é que dita quem é o mais forte? Do ponto de vista biológico não há resposta, ou quando muito é a "espécie" como abstração, é apenas questão de sorte aleatória, ou se melhor convier, é uma proporção matemática, mas os seus indivíduos não são imortais, e nem vivem com consciência da mortalidade e do sentido de seu agir, apenas agem, apenas sofrem, apenas buscam sobreviver; o lobo não pensa consigo: "Preciso sobreviver para acasalar com fêmeas para perpetuar a espécie", se assim ele pensasse, poderia pensar também: "Assim como quero perpetuar a espécie, a alcateia inimiga também quer, não preciso lutar por causa disto, a alcateia diria: "Vamos nos unir e formar uma alcateia maior e cada um ter uma fêmea, para assim haver certeza da perpetuação não da espécie, pois ela sobreviveria ainda que apenas um de nós se reproduzisse, mas de cada um de nós mesmos particularmente; que a minha linhagem genética se perpetue", pouco me importa que o outro se reproduza, importa que seja eu. Ora, daí temos a consciência da continuidade familiar que já é outra forma de organização que não corresponde necessariamente à organização humana por inteira, mas que já ultrapassa o senso da alcateia, é um senso também individual, não é a espécie que se reproduz, mas o indivíduo concreto, é o seu drama individual. Com ambos exemplos, vemos que também a relação de Lobo e Alcateia deve ser meramente simbólica e analógica, mas a relação humana é intrinsecamente mais complexa e engloba vários níveis, entrelaçados e dinâmicos e não menos genuínos.
Todas as relações analogicamente sociais encontradas na natureza parecem confirmar antes a superioridade mórfica da estrutura humana. Esta estrutura não se desenvolveu gradualmente na natureza, poderíamos até dizê-la que apreendeu as formas da natureza e trouxe-as para si para desenvolver as próprias capacidades, porque no homem vários aspectos da natureza e de sua organização são apreendidas e de certo modo imitadas pelo próprio homem. Mas para além disto, no homem abriga-se formas que não são encontradas na natureza e nem entre as espécies de pongídeos ou hominídeos, esta gradação da estrutura da organização puramente humana ocorre dentro da própria espécie humana e deriva não do instinto, mas da apreensão das formas na natureza que adquirem maior versatilidade conforme maior o imaginário da população local. Ora, vemos isto quando estamos a deparar os diversos ambientes da qual o homem assim chamado de "Primitivo" e vemos que ele se adaptara às cavernas, mas as cavernas não eram o seu habitat natural, indica antes uma atitude de sobrevivência tal como se poderia levar de outra maneira, mas ali naquela região, naquela época, diante das circunstâncias o que havia era pressa urgente, conforme vemos relatos de importantes arqueólogos que estudaram os primitivos em várias regiões do mundo, em especial no Brasil, como Thoron e Bernardo Azevedo. Ora, também vemos que a presença destes primitivos não estavam presentes por todo o mundo, como ainda hoje vemos tribos primitivas vivendo em choupanas em cima das montanhas, ao lado de rios, em planícies ou em cânions. A presença de uma humanidade espalhada pelo mundo inteiro, em continentes separados, dentro de cavernas vivendo diante do medo e da urgência, e de outras a viverem numa constante migração nômade, indica mais a humanidade de sempre que apreendeu formas distintas, mas não em comunidades isoladas do ponto de vista evolutivo darwiniano. Este debate sobre o nível de "humanidade" entre as etnias humanas nos últimos séculos levou às loucuras cometidas nos mesmos últimos séculos. A Cristandade que conhecia a dignidade humana apostatou para declarar alguns humanos menos humanos e outros humanos em mais santos. Curiosamente, para a surpresa zero de pessoas honestas, foi a Igreja Católica, particularmente entre os difamados Jesuítas, que nunca questionaram a dignidade humana, quem ainda declaram constante e vigorosamente que não importa o local e a época, o homem é homem, e enquanto tal, possui a mesma dignidade e capacidade de apreender as formas sempre superiores da natureza, e sobretudo da sua própria natureza, que é a de uma natureza propensa à queda ao mesmo tempo de tenra elevação em espírito.
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