Sobre algumas culturas transmitidas por Tradição Viva
A aquisição de certas culturas só se dá no âmbito individual, pessoal e numa comunicação direta, que se dê pelo menos por um canal eficaz de comunicação. Alguns exemplos de cultura que se encaixam em tais tipos são: A Filosófica, a Cristã, a Médica, a Maçônica. Em todas elas vemos o comum de haver iniciação de alguma forma, a cultura é transmitida por meio de uma tradição, esta traz todo um corpo de ideias, teorias e práticas que não podem ser aprendidas apenas por meios fixos e mortos como livros, mecânicos, ferramentas ou repetições miméticas. Esta tradição é dada por seres vivos que absorveram tais tradições e somente o indivíduo que já domina uma tradição, que esteja dentro dela, pode conferir e aceitar o outro igualmente.
Na Filosofia, o candidato a filósofo só recebe tal tradição em acompanhando outro filósofo em vida, o canal de comunicação deve ser individual e pessoal, a comunicação deve ser direta, mas outrora se pensava que deveria ser presencial, mas é sabido que nem sempre é possível e não necessariamente, pode ser por meio virtual, mas um meio em que o filósofo e o discípulo aspirante possam absorver mutuamente a vivência e permanência da comunicação da tradição.
A tradição filosófica não é transmitida inteiramente por palavras, mas pela apreensão interior que cada filósofo terá de fazer de novo e de novo. Assim, não é possível ser filósofo somente lendo livros ou assistindo trechos de aulas pela internet, ou pior ainda, repetindo frases prontas que aparentem querer impressionar um público, tal como uma poesia ou provérbio.
A Tradição Cristã é transmitida por meio do Batismo, sem o batismo, uma pessoa não tem o direito de se dizer cristã e ao negar tal canal de transmissão de tradição, ela não está autorizada sequer a dizer que ama a Deus, pois nega o príncipio número um desta tradição; ser salva por Ele, porque no âmbito evangélico a sua consciência de batismo e a negação dele, implica que a pessoa não quer fazer parte de tal tradição. A Tradição Cristã não é transmitida por livros, mas por pessoas de fé e pelo sinal eficaz do batismo que não é transmitido só por palavras, como se fosse mágica, mas sim por meio de um ritual preciso que une o elemento físico água, o catecúmeno que receberá a água sobre o seu corpo, a palavra de fé do sacerdote, e dos demais que assinalam e testemunham o que ele acredita, assim um pagão não pode batizar, a menos que ele tenha a intenção de batizar alguém em caso de extrema urgência por ocasião da mesma fé, então mesmo nessa situação se requer abraçar e adotar toda uma tradição viva, e que por ser viva permite estes casos. Na Igreja Católica, um fiel deverá repetir este processo não só no batismo, mas em cada um dos sete sacramentos da Igreja, sacramentos estes que não podem ser inventados ou alterados, mas todos devem ser extraídos de sinais dados por Cristo com força de Mistério da Salvação: Batismo e Confissão tem poder de limpar do pecado e das correntes do demônio, Crisma e Eucaristia dão a graça do Espírito Santo para tornar o crente apto a vencer e a crescer na fé, além de viver a sua vocação, já Matrimônio e Ordem é para prestar ao Corpo Místico de Cristo as Duas Formas Sacerdotais de Cristo: Esposo e Sumo-Sacerdote. Temos ainda a Unção dos Enfermos que é para preparar a alma no seu encontro definitivo com Deus na Eternidade e a sua Cura interior plena. Nos sacramentos da Igreja, os sinais não podem ser dados virtualmente, mas presencialmente, porque o sacramento por si só já é a atualização de uma graça que fora dada por Cristo nos primórdios, não pode ser recriada ou transmitida por meios que não sejam aqueles sinais, assim não se pode batizar uma pessoa despejando uma água pela televisão, nem receber a unção dos enfermos por telefone. Por causa disso, também não pode uma pessoa se intitular apóstolo, apenas se se é aceita como apóstolo por outros apóstolos, jamais ela se pode atribuir tal coisa, ela não recebeu o sinal visível, isto é, o sacramento que comunique aquela iniciação por parte dos outros apóstolos. Então por isso uma pessoa não se pode chamar a si mesma de pastor, mas apenas os pastores da Igreja, isto é, aqueles que foram escolhidos por outros e aceitos por outros de tal forma que se fizermos a linha do tempo chegaremos até o próprio Cristo que escolhera os doze apóstolos.
A Tradição Médica também se inclui neste esquema porque um médico só é médico quando é aceito por outros médicos, isto é, foi incluído pela classe médica como um membro. Para isto ele terá de adquirir conhecimentos que serão passados pessoalmente, por comunicação direta, mas aqui, ao contrário do filósofo, o médico não adquire jamais esta tradição por meio virtual, somente por meio presencial, semelhante aos sacramentos da Igreja. Alguém não vira médico só por ter lido um livro de medicina ou por ter assistido alguém fazer cirurgia na cabeça de outro.
A Maçonaria também é uma tradição passada individualmente, pessoalmente, presencialmente, e por comunicação direta, mas ao contrário dos demais itens citados, o maçom não precisa contar para o outro que ele faz parte de tal organização. Dois maçons podem viver uma vida inteira lado a lado sem saberem que um e outro são da mesma organização, pela natureza discreta da organização. Assim como as demais tradições passadas pessoalmente, há uma série de ritos que precisa adquirir, e vai subindo nos graus a forma de "sacramentos" até chegar no topo, e em cada grau implica em responsabilidades da autoridade recebida.
Esses são alguns exemplos de cultura cuja tradição são passadas pessoalmente e por comunicação direta. É importante ter consciência disto porque há imensa confusão sobre quem é filósofo, quem é padre, quem é médico e quem é o quê. Um exemplo muito claro disto são estas pessoas que a mídia gosta de chamar de filósofos quando na verdade não são de maneira alguma, como a Márcia Tiburi, esta mulher não tem a mínima capacidade de filosofar sobre nada, no máximo ela consegue articular palavras miméticas para efeito impressionista a uma plateia que de antemão acatará suas palavras não como uma verdade dita e meditada, mas como um gozo autorreferencial de práticas grupais e partidárias. Um filósofo jamais fala para uma plateia de não filósofos como um fim em si, um filósofo sempre busca dialogar com os demais filósofos a fim de investigar aquilo que lhe fala no espírito, e ele compreende exatamente o que é que lhe perturba, jamais um filósofo se perturba com opiniões político-partidárias em si mesmas, apenas quando aquilo interfere diretamente na sua compreensão da realidade. Por exemplo, um filósofo não vai se preocupar se o presidente que está no poder é do seu agrado ou favorece o seu grupo, e sim os motivos pelo qual as pessoas escolheram e apoiam ou esperam de tal presidente, esta preocupação não visa querer derrubá-lo ou querer tomar as pessoas de assalto em suas opiniões, visa compreender o drama do coração humano que está acontecendo ali, naquele momento, é o motivo pelo qual aquilo afeta as almas daquelas pessoas, as consequências destas escolhas na realidade é para o filósofo um dado a se perceber necessariamente, não motivo de paixões fúteis dualistas. Se ao ver pessoas que apoiam o contrário de suas ideias, o que você consegue sentir é ódio, ao invés de sentir amor, e amor aqui significa você experimentar desde dentro da alma e psique, investigando os motores internos que movimentaram a sua motivação, então você não é filósofo, é torcedor de um time. Por isso que a Márcia Tiburi, entre outras incontáveis barbaridades, não é e nunca foi filósofa. Mas ela é apenas um detalhe; o problema é quando as tradições vivas viram meras figuras miméticas e teatrais de autoridade.
A Classe Médica atual, por exemplo, tornou-se numa exemplar categoria teatral, a maioria dos médicos não possuem talento vivo desta tradição que é respeitar o ente humano e a sua integridade física, há mais interesse em preservar o cargo do que verdadeiramente buscar as raízes do sofrimento humano, o médico, assim como o sacerdote e o filósofo, deve estar sempre se atualizando e buscando verdadeiramente como resolver um problema que ele está vendo e experimentando na dor de seu paciente.
O filósofo quer compreender o sofrimento humano na realidade, mas não necessariamente curá-lo, o médico quer compreender para curá-lo, o sacerdote para redimi-lo perante o Eterno, é ainda mais acima. Estas três tradições muito possuem a ver uma com a outra neste sentido. A Maçônica se distancia de todas elas por querer compreender para poder, e não para libertar ou ensinar, curar ou restaurar, ao contrário, reformar, e reformar é destruir e dar nova cara, o contrário do que a filosofia, da medicina e da religião cristã em seu sacerdócio paterno são.
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