À Alta Cultura, A Nova Cruzada!

Volto-me para este ambiente em que vos escrevo quase dois anos depois de tê-lo deixado. Por vários percalços ao longo destes dois últimos anos retornei de volta, vi-me impelido a escrever sobre este tema que me é tão caro, extenso e esplêndido. No passado, neste ambiente em que vos escrevo, falava sobre alguns percalços e assuntos concernentes à minha Terra Natal, cidade e estado. Ao longo de anos em que trafeguei por aquela estrada das miudezas provincianas, percebi a tenra necessidade de falar sobre o contexto em que as mesmas se encontravam, neste caminho percebi o tamanho do mundo. Me assombrei e quanto assombro! Não esperava que fosse tão complexo o problema do mundo atual, sim um problema atual e referente à sobrevivência da Civilização mesma. Afinal, do que estou falando, amigo leitor? Não, isto não é uma imitação de Machado de Assis, não quero puxar-te ao meu eixo, é que preciso abrir este espaço, reconheci isto quando tive que verificar os meus antigos trabalhos referentes às miudezas provincianas de outrora. Tomei caldo de cana, cresci e fiquei astuto, sim! Mas tenho que seguir o conselho de não fingir saber o que não sei e nem não saber o que sei, quanta sapiência envolvida! 

 A província pode ser definida como um espaço subalterno a outro, subjacente e dependente do outro. Outro território, não é o mesmo território, mas a província é um território em escala menor e em outro tom, diria até de outra espécie de território em relação àquele principal de que ele faz parte e integra como parte, como objeto. A província é na realidade como filho mais novo, precisa se desenvolver e depende muito dos mais velhos e dos pais. Do Império Romano, vem as nossas palavras "região, diocese, prefeitura", etc. Região é uma área delimitada de um território maior, mas está para além do núcleo, centro deste mesmo território, isto é, da capital. Capital quer dizer cabeça, para quem ainda não sabe, a cabeça da nação guia os demais membros que são as regiões do mesmo país. Num país grande, velho e desenvolvido largamente há muitas e muitas regiões, estas podem ser formais ou informais, são as províncias, elas são regiões culturais precisamente. Na Igreja Católica temos uma capital chamada Santa Sé e a sua área de atuação capital: Vaticano e Roma, temos ainda as dioceses espalhadas por todo o globo. Mas mesmo entre as dioceses existe uma certa hierarquia, algumas dioceses possuem uma influência maior por serem mais velhas, mais robustas e mais importantes no contexto institucional, são as arquidioceses, dioceses principais significa, também há os patriarcados, que como se diz, possuem paternidade, mas são filhos da mesma e única Igreja de Cristo, ou seja, trata-se da mesma e única Igreja de 2.000 anos seja de uma diocese de 2000 anos como Jerusalém, seja de uma diocese novíssima criada pelo Papa Francisco. A província é semelhante, mas está para o corpo da nação. 

 Gilberto Freyre defendia em Um Mundo Novo que deveria haver uma valorização da província em detrimento da centralidade nacional e um internacionalismo universalista, integrante. A preservação da vida provinciana e do homem internacional, cosmopolita, uma sociedade enriquecida pelo múnus humano. Ora, isto é muito bonito em palavras, mas hoje, meio século ou mais desde que ele escreveu tal obra, constatamos que o internacionalismo vem destruindo o múnus das mesmas comunidades provincianas. Quantas províncias já não desapareceram pelo mundo frutos da globalização e internacionalização dos costumes? Inúmeras. As tecnologias vêm para minar as relações humanas e torná-las mais e mais superficiais, porque as províncias ainda não aprenderam a usá-las para se valorizarem, ao invés disso, uma província que se tornou capital da globalização domina toda a hierarquia dos costumes, aliás ao menos três capitais: Vale do Silício, encarregada de produzir a tecnologia do futuro; Nova York, capital financeira e sede de instituições provincianas de atuação global como a ONU; e por fim a famosa Londres, sede do subsistente e fluído Império Britânico que nunca deixou de existir. Uma bela diferença entre os impérios atuais para os de outrora é que os de outrora você sabia claramente o nome e de onde vinha as ordens, os atuais são fluídos de tipo aquoso ou aéreo, e diria também até etéreo, concernentes em capitais igualmente fluídas em bonecos infláveis, joões-bobos. Teremos tempo para explicar melhor do que se trata estes termos, faço campanha pela assiduidade do leitor, mas por hora devemos apenas nos ater a estas concepções uterinas da sociologia. Ao certo, o internacionalismo minou as províncias e tornou-as mais parecidas com o Vale do Silício, que de acordo com Mark Zuckerberg, não sei se escrevi certo o nome dele, é extremamente esquerdista. 

 Após esclarecer o que é província, vimos que ela parece ser por definição fluída como um rio, não por acaso não são poucas as províncias que foram historicamente delimitadas por rios e montanhas, quer coisa mais fluída do que isto? Também dissemos que os impérios atuais também são fluídos, o que é uma novidade, já que geralmente estes foram engessados e concentrados na instituição da capital. Ora, hoje não temos condições de saber quem manda em quem. Não é o presidente quem manda no país, não é o juiz o juiz, não é o empresário o empresário, não é, diria, até o bispo o bispo, enfim, está uma baita confusão, mas esta existe, se existe, na cabeça de alguém é porque lhe falta o preparo intelectual, isto é, a formação necessária para separar os termos aplicados aos objetos. Nem tudo o que parece é, diz o ditado, é certo que a confusão, obra do demônio, tem por finalidade desviar a atenção do interlocutor. Hoje o que vemos são as obras das trevas a causarem confusão e desordem, dando os nomes diferentes aos bois, então devemos fazer o trabalho perdido de Adão de dar os nomes às coisas como elas são realmente. Por isso que a nossa batalha espiritual mora no campo destas capitais fluídas e impérios fluídos como rios de vômito lançados pelo dragão a querer engolir os descendentes da Mulher. Vivemos numa província diluída pelo fluído de uma capital sem nome e de um império sem cor, mas com cheiro de enxofre. cheiro de pum de boi, é hora de dar nome a estes bois. 

 Estamos, meus caros, numa viagem rumo à Alta Cultura, esta é a nova cruzada dos nossos tempos, uma batalha espiritual e cultural para preservar o conhecimento e a civilização humana, sobretudo a nossa, cristã. Somos impelidos como soldados frente à batalha, não devemos temer pegar a espada da verdade e lançar sem piedade contra o mal que avançou por este rio. Crescemos a província, é hora de recuperarmos o país.

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